sexta-feira, 24 de setembro de 2010

CONCURSO PÚBLICO - Expectativa e Perspectiva


Como professor de cursos preparatórios percebo que a grande massa de estudantes que se envolvem nesse processo vem empanturrada de expectativa. Mas antes de apresentar a vocês a minha visão da coisa, convém definir o que vem a ser expectativa:

Expectativa é um processo de motivação interior, é o sonho, o desejo de alcançar algo, seja ele físico material ou imaterial. Desejosos que somos por qualquer tipo de melhoria, buscamos a estabilidade financeira, o progresso social e, em dado momento, visualizamos isso nos concursos públicos.

Já passei em alguns concurso públicos militares e civis e entendo que esse impulso é nada mais do que desejo. Aquele ditado que diz “querer não é poder” encaixa-se bem, quando trazemos para os nossos estudos a noção de expectativa desprovida da devida perspectiva. Enquanto alguns só desejam passar, outros planejam passar. Muitos abrem mão de empregos, horários com familiares, diversões gerais. Abdicam do prazer imediato para construírem um futuro melhor. Outros nem sabem que existe curso preparatório. Outros ainda, fazem a inscrição e, quanto não há uma prioridade maior como “fazer algo mais prazeroso” vão ao cursinho e , e em alguns momentos, em casa, no trabalho, ou nas salas vazias do curso pegam o material para darem uma olhadinha. É aí que a perspectiva decide o futuro de alguns.

Costumo dizer que passar em concursos públicos é o meio mais fácil de se chegar a uma vida profissional estável. Para ser servidor ou funcionário público não é necessário ser comunicativo, simpático ou formador de opinião; não é necessário ser um Tom Cruise ou ainda um Pedro Cardoso (por sinal, um show na grande família). O estudante só precisa organizar o tempo, definir um objetivo a médio prazo e estudar com professor e material didático adequados e pronto.

Um outro ponto importante é perceber a fila, que avança. Os mais bem preparados que você, em determinado momento passam e param de concorrer, muitos bons estudantes desistem no meio do caminho por novas oportunidades e outros, por não se sentirem motivados até chegar ao objetivo. Assim você tem a obrigação de apenas, apenas mesmo, estudar, estudar e estudar.

Quem fala que é difícil passar em concursos públicos e vem estudando só vê a coisa oniricamente, só deseja, mas nunca se organiza para alcançar o objetivo. O nosso maior rival – isso soa como lugar comum – é a nossa impaciência, insegurança e falta de planejamento. Nada do que você, querendo de verdade, não consiga ter.

Assim, não esqueça! A expectativa só tem valor nos concursos, quando acompanhada da devida perspectiva. O desejo não move moinhos, é fundamental que façamos ventar. Sonhar é importante, mas planejar é parte do processo.

Sucesso,

Marcelo Portella

“GRAMÁTICA PELA GRAMÁTICA É CAFÉ SEM AÇUCAR. SÓ ALGUNS GOSTAM.”


Não é de hoje que se discute a importância do estudo da gramática. Massas se movimentam numa dicotomia de fazer gosto a qualquer estudioso do futuro. O que se discute de regra é: a gramática deve ser estudada como fim, pois representa um recurso de poder e controle sobre as demais classes sociais; ou como meio, já que o objetivo da língua se presta à comunicação e não à forma?

Acredito que, apesar de ter passado longos anos da minha vida me dedicando ao estudo da nossa língua, devo ter recebido em algum momento a pecha de “inovador demais”. Não me considero inovador, também não me considero descuidado. Certamente me preocupo com o rumo que toma a língua e as conseqüências que desse decorrem. Inovadores verdadeiros são os que transformam a língua efetivamente – o povo – simplificando-a de maneira a dar musicalidade, clareza e velocidade à comunicação.

Relacionando essa noção ao concurso público, percebe-se - e isso me parece bom - que a elaboração das provas (NCE, ESAF, CESPE, FCC) vem caminhando rapidamente para a instrumentalidade da língua nos moldes do povo. Há questões que, apesar de torrencialmente criticadas, não trabalham mais com a noção de erro. Triste é ver que alguns colegas de trabalho insistem em determinar como verdade usual aquilo que há muito se transformou em arcaísmo ou representa importação inadequada.

Em adição a essa proteção inexplicável, vive-se uma guerra industrial lucrativa do certo e do errado, do “pode” e “não pode”, contribuindo para aumentar ainda mais o preconceito lingüístico absolutamente irracional.

Fica difícil convencer (esta é a palavra adequada) o aluno mais talentoso da noção de erro na utilização de um pronome proclítico, ou do verbo ter no lugar do haver. A pergunta – sem resposta – que provavelmente partiria dele seria. A língua é a regra que não existe na prática, ou a prática que não existe na regra?

Também através dos nossos próprios “mestres dos mestres” herdamos o preconceito. Em entrevista há pouco tempo, um ilustre defensor ferrenho da norma chegou a dizer, que foi ao Maranhão porque tinha ouvido dizer que lá se falava um “bom” português. Vejamos o que ele disse:

“Certa vez, fui ao Maranhão porque me disseram que lá se falava um português menos contaminado. Pura lenda. Acho que, no cômputo geral, o carioca é o que se expressa melhor sob a ótica da norma culta. Ele não come o “s” quando usa o plural, utiliza os pronomes com mais propriedade, não erra tanto nas concordâncias e tem uma linguagem mais criativa”.

Preconceito sem fundamento teórico. Chegando ao Rio, no aeroporto Tom Jobim, ouvi um homem bem vestido, com anel de formatura no dedo – sotaque carioca – gritando para o rapaz do check in: “Já são três aeroporto e nada, meu irmão”. Interessante é que, com a naturalidade apresentada pelo indivíduo, aquela frase não me pareceu agressiva e muito menos feia. O s é “comido” por todos os brasileiros, incluindo cariocas. Ponto!

De qualquer forma, não se está discutindo aqui a execração da norma. Claro que o estudo dos aspectos gramaticais nos auxiliam, localizando-nos, organizando-nos. Acredito que a gramática deva ser estudada a fundo, sim. Mas com alegria, com interações práticas com revelações intelectivas, como ponte para a compreensão do próximo. Aquela gramática envelhecida, obstruída pelo preconceito precisa ser trocada por uma visão dinâmica, moderna, com abertura à transformação; precisa ganhar vida em sala de aula, tirar sorriso do aluno e fazê-lo compreender que ela não é pior nem melhor que a língua que ele fala no dia a dia. Pelo contrário, através de uma abordagem mais irreverente e sensata (não é contradição), torna-se fundamental descobrir que há muito mais relação ou identificação entre as duas, desde que não se deprecie subjetivamente uma ou outra.

Triste é ainda vermos, quando feita a pergunta em sala “Quem gosta de estudar a língua portuguesa”, poucas mãos entusiasmadas.

A despedida deixo para O Mestre.

Aula de Português

A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender

A linguagem
na superfície estrelada de estrelas,
sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.


Carlos Drummond de Andrade